Nova morada:
A desoras
«— Meu tempo é quando.» Vinicius de Moraes
25 de março de 2023
10 de outubro de 2020
Ensaio sobre a loucura
Sejamos loucos,
dessa loucura
que atinge poucos
e pouco dura;
outra loucura,
a que amofina
e amargura
e desatina,
oxalá nunca
a apanhemos
de garra adunca,
como um demónio,
longe da cura,
no manicómio.
© Domingos da Mota
1 de agosto de 2020
Poema dos póstumos aniversários
Fosse vivo, faria anos
– e continuará a fazê-los
no eterno oceano
do oblívio, se o esquecermos.
© Domingos da Mota
– e continuará a fazê-los
no eterno oceano
do oblívio, se o esquecermos.
© Domingos da Mota
17 de fevereiro de 2020
A MESMÍSSIMA RUA
a mesmíssima rua
a mesmíssima esquina
a velhíssima lua
a novíssima menina
a mesmíssima atmosfera
a mesmíssima aragem
a novíssima espera
a velhíssima abordagem
© Domingos da Mota
Pequeno tratado das sombras, Edição Busílis, Porto, Dezembro 2018
a mesmíssima esquina
a velhíssima lua
a novíssima menina
a mesmíssima atmosfera
a mesmíssima aragem
a novíssima espera
a velhíssima abordagem
© Domingos da Mota
Pequeno tratado das sombras, Edição Busílis, Porto, Dezembro 2018
30 de janeiro de 2020
PROCURA A CARNE
Procura a carne a carne, e a ferida
Vai-se fechando nesse lento encontro.
Encerra-se o passado ponto a ponto,
Onde havia dor vem a cicatriz.
Por si, não é feliz nem infeliz,
Essa estrada que em si a carne traça,
Um saber que não sabe, só perpassa,
E que por onde passa deixa a vida.
Nessa ruga aí vamos avançando,
O corpo amado vai envelhecer,
Que Urubu tempo junta estranho bando.
Isso que não é, chamam-lhe viver.
Assim se faz o onde, o como, o quando,
O corpo, o campo santo do prazer.
Manuel Resende
Poesia reunida, Posfácio de Osvaldo M. Silvestre, Edições Cotovia, Lda., Abril de 2018
Vai-se fechando nesse lento encontro.
Encerra-se o passado ponto a ponto,
Onde havia dor vem a cicatriz.
Por si, não é feliz nem infeliz,
Essa estrada que em si a carne traça,
Um saber que não sabe, só perpassa,
E que por onde passa deixa a vida.
Nessa ruga aí vamos avançando,
O corpo amado vai envelhecer,
Que Urubu tempo junta estranho bando.
Isso que não é, chamam-lhe viver.
Assim se faz o onde, o como, o quando,
O corpo, o campo santo do prazer.
Manuel Resende
Poesia reunida, Posfácio de Osvaldo M. Silvestre, Edições Cotovia, Lda., Abril de 2018
28 de janeiro de 2020
AS PUTAS DA AVENIDA
Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
Fernando Assis Pacheco
Variações em Sousa, colecção de poesia Inimigo Rumor, Angelus Novus, Coimbra e Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 2004
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
Fernando Assis Pacheco
Variações em Sousa, colecção de poesia Inimigo Rumor, Angelus Novus, Coimbra e Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 2004
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